Uma pequena história
da nossa Banda ‘Antigos Carnavais’
(*) Gutenberg Costa
Tudo
começou com um sonho de um menino pobre que pelas ruas ainda sem calçamento do
bairro do Alecrim, saia alegremente no bloco de papangus, organizado pela
ativista cultural dona Marlene Teixeira, nas manhãs e tardes de carnaval. Esta
mulher guerreira cortava seus lençóis e toalhas de mesa, para vestir dezenas de
meninos, entre eles, os seus próprios filhos. Era um saudoso tempo governado
por Paulo Maux e seu rival Severino Galvão. O gordo Paulo abraçando os foliões
e o magro Severino os borrifando perfume, de uma bomba, marca detefon. A banda
Antigos Carnavais, espelhada nas gloriosas Banda de Ipanema, do Rio de Janeiro
e BandaGália de Natal, surgiu de um apelo nosso ao então secretário municipal
Armando José, em 2002, que de pronto, deu total apoio e 20 músicos para sairmos
pelos becos estreitos da artéria chamada ‘da Lama’ e adjacências da Cidade Alta.
Região dos primeiros carnavais natalense nas animadas Ruas Grande e da Palha.
Um pequeno estandarte doado por Augusto Maranhão e carregado alegremente por
Fernando Towar. Em sua primeira organização, além de mim, esteve os bravos
Marcelo Sena e Múcio Araújo. Os três cavaleiros da alegria!
Neste
ano fomos até filmado pelo cineasta Carlos Tourinho, que aportara por aqui há
pouco tempo. Depois a coisa foi crescendo a cada ano, com históricas brigas com
os sucessores de Armandinho, Franklin Delano e Marcelo China. Intrigas do bem
para se fazer um carnaval de popular de rua, aberto sem cobrança alguma do
folião que estava desanimado com o som invasor dos baianos, deixando o frevo
pernambucano, que sempre foi a nossa identidade musical, esta já centenária e
aprovada pelo nosso povo momesco. A cada ano a nossa Banda foi homenageando
personalidades carnavalescas, organizando exposições fotográficas e promovendo
o seu Baile da Saudade, na Rua Tavares de Lira, local de nossa chegada no
Bairro da Ribeira. Depois tivemos a chegada dos aguerridos carnavalescos para
engrandecimento da nossa organização de Gêir Albuquerque, Márcia Moreno e
Adrovando Claro, que continuam até hoje na luta desenfreada para mostrar que é
possível trazer o povo de volta ao carnaval de Rua em Natal.
Quando
completamos cinco anos, com a ajuda do supermercado Veneza do grupo Rede Mais,
colocamos um bolo gigante de cinco metros na Rua Princesa Isabel, para o povo
que lá nos acompanhava. Tudo filmado pela câmera dos jovens cineastas Diogo
Moreno e Adrovando Claro. Nossa boneca gigante prestou a maior homenagem em
vida à personagem popular mais conhecida de todos de Natal, conhecida como auto
se intitulara ‘Embaixatriz Severina’ ou ‘Administradora Geral do Estado’. Natal
era outra no tempo da lúcida prima da rainha Elizabeth, dando ordens e
moralizando as nossas contas públicas. Era mais temida sozinha, do que todo
Tribunal de Contas...
De
nossas boas brigas trouxemos a eleição aberta do Rei Momo e Rainha, antes em
clube fechado, para o nosso Baile da Saudade, na Ribeira. Brigamos com o
poderoso Trio elétrico e o Axé baiano e até fizemos o grande potiguar
compositor e cantor Dosinho, emocionar-se ao ouvir a nossa música carro chefe
da Banda ‘Não se Faça de Doido Não’. Atendendo nossas sugestões então
secretário Dácio Galvão, o tratou de merecidamente o homenagear. Historicamente
devemos muito a Dosinho, que é mais prestigiado em Pernambuco do que na sua
própria terra.
Incontáveis
foliões se colocaram a nos apoiar com sua presença, apoio e alegria desde 2002
até os dias atuais, mas um fato que me levou as lágrimas foi quando o amigo
Rochinha em 2005, vendo a Banda começar a tocar um frevo, correu em direção a
um camelô e comprou rapidamente uma colorida sombrinha, par lhe acompanhar em
sua esfuziante caminhada. Atitude rochiana, que precisaria de Berilo Wanderley
e Newton Navarro, juntos para a transcreverem para os séculos seguintes. Como
esta, vemos a cada ano os muitos gestos dos acompanhantes anônimos, que ainda
acreditam que o carnaval de rua não morreu depois daquele trágico acidente de
1984. Tudo isto é sinal que o nosso bom frevo de rua atrai anualmente mais
gente de todas as idades, sem violência, cordão excludente e pagamento de
camisetas. O povo tem o devido direito de livremente divertiren-se como
naqueles velhos tempos de Djalma Maranhão, Tota Zerôncio, Zé Areia, Melé,
Lucarino, Bum-Bum e tantos outros quixotescos do nosso carnaval de rua
natalense.
Como
o objetivo da Banda Antigos Carnavais é primordialmente fazer carnaval de Rua
em Natal e paralelamente mostrar o seu lado histórico e cultural, este ano
estaremos realizando a primeira ‘Mostra de Cinema Carnaval’, aberta ao povo,
exibindo documentários carnavalescos em um telão, todas as noites, de 25 a 28
de janeiro.
E
ainda este ano a nossa Banda sairá na sexta feira, do dia 29 de janeiro
próximo, do lado da antiga Catedral, na Cidade Alta, com a Banda composta por
cinqüenta músicos, pelas principais ruas históricas do centro até a velha
Ribeira boemia de tantos carnavais.
Sabemos
que a maior homenagem que se pode fazer a estes dignos momescos citados, é sair
de casa, fantasiado ou não e cair ao som do frevo das bandas carnavalescas, que
já tradicionalmente afronta o todo poderoso ritmo eletrizante fora de época.
(*) Fundador da Banda Antigos Carnavais e autor
da obra
inédita: ‘História do Carnaval da cidade do Natal’.